sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A derrota de Freixo e a autocrítica da esquerda


Confesso que a derrota do Marcelo Freixo me decepcionou, mas de maneira alguma me surpreendeu.

A transformação de um bispo em prefeito do Rio é resultado de um processo de quase 40 anos, no qual, diuturnamente, é realizado pela Universal um trabalho político nos bairros pobres, favelas e espaços das classes trabalhadoras, ou seja, em qualquer rua de terra batida, morro ou buraco - mesmo que em um recinto ainda no tijolo - A IGREJA CHEGA E A ESQUERDA NÃO.

Por meio da teologia da prosperidade, tal metodologia cooptou milhões de seguidores, o que viabilizou até a construção de todo um aparato midiático.

Também faz-se necessário lembrar que Crivella, antes de eleger-se neste ano, havia perdido duas eleições a prefeito e mais duas a governador. Por sua vez, Freixo conquistou seu primeiro cargo político há apenas dez anos, através de um partido recém-criado. Esse último pleito municipal foi sua segunda tentativa de se tornar prefeito da cidade maravilhosa, mais uma vez frustrada após não conseguir ampliar seu curral eleitoral para além do eixo Zona Sul-Centro.

Tendo isso em vista, fica claro, que não só o PSOL, mas toda a esquerda deveria, logo depois da apuração das urnas no domingo, ter começado a fazer uma série de autocríticas.

Deixar de atuar somente no campo universitário e reiniciar um trabalho de construção de base popular é a única saída para evitar que o plano de poder da bancada evangélica venha a se concretizar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A Onda Conservadora


É estritamente natural que a supremacia de um lado provoque uma reação no oposto (a Terceira Lei de Newton está aí para não me deixar mentir).

E no espectro político não poderia ser diferente...

Em 1917, quando a Revolução Bolchevique triunfou na União Soviética, como resposta nasce o fascismo, em 1922, e por conseguinte o nazismo, em 1933.

Pouco depois de Fidel Castro e seus guerrilheiros realizarem a Revolução Cubana - que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista - proclamando a independência de Cuba em face dos EUA, o imperialismo estadunidense deu início a uma série de destituições de governos progressistas na América do Sul. Seguindo tendência já acolhida no Paraguai, ditadores militares assumiram os lugares de João Goulart (Brasil), Arturo Illia (Argentina), Víctor Paz Estenssoro (Bolívia) e Salvador Allende (Chile). Tais tiranias proliferaram até o Uruguai, perdurando-se até os anos 80, na qualidade de aliados na luta contra o comunismo.

Após o fracasso desse modelo ditatorial, o chamado neopopulismo tomou a América Latina a partir de 1999. Com a coadjuvação de Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), o coronel Hugo Chávez (Venezuela) liderou uma Aliança Bolivariana, na qual alinharam-se: o casal Kirschner (Argentina); Fernado Lugo (Paraguai); Lula e Dilma Rousseff (Brasil); Tabaré Vázquez e Pepe Mujica (Uruguai); Michelle Bachelet (Chile) e; Manuel Zelaya (Honduras).

Hoje, a “onda conservadora” que nos assola é, justamente, o reflexo dessa “década dourada da esquerda”, a qual representou uma "ameaça vermelha" para o lado avesso do espectro. Em 2009, o presidente hondurenho Zelaya já foi tirado à força de sua casa e deportado à Costa Rica. Mais recentemente, em 2012, menos de 48 horas foram necessárias para o congresso paraguaio votar pelo impeachment relâmpago de Lugo. Ambos casos remetem à queda de Dilma no Brasil, pois todos eles culminaram na instalação de governos neoliberais em comutação, rumo que já havia sido tomado pela Argentina com a eleição de Mauricio Macri, porém via pleito democrático - processo distinto ao dos demais episódios.

Sendo assim, conclui-se que essa ideologia do medo e a demonização do outro foram responsáveis por fomentar o ódio da polarização política que deu origem ao embrião dos regimes mais nefastos da história. Portanto, toda cautela nesse momento é pouca, para evitar que, mais uma vez, o futuro repita um sombrio passado.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Apartheid Carioca


Cresci ouvindo dizer que o Rio é a cidade mais democrática do Brasil, pois cultua-se um ideal, no qual as suas praias e o Maracanã constituem ambientes, cujos cidadãos das mais variadas classes sociais convergem harmoniosamente.

Mas, com o passar do tempo, fui percebendo que a realidade é totalmente inversa ao estereótipo do município.

Primeiro, descobri que transporte coletivo oriundo da Baixada sempre foi proibido de adentrar a Zona Sul.

Posteriormente, quando uma turista estadunidense foi estuprada dentro de uma van, e a prefeitura, simplesmente, desautorizou a circulação de transporte alternativo APENAS nos bairros da Zona Sul, logo subentendi que nos demais bairros o estupro era liberado.

Nessa mesma época, o ônibus que eu pegava para ir ao Centro, cujo terminal era na Praça XV, foi restringido a não passar mais da Candelária, e agora recentemente da Central.

No ano passado, a PM retirou jovens negros de ônibus vindos da favela para impedi-los de chegar à praia.

Agora, a Câmara quer separar a "Zona Oeste rica" da "Zona Oeste pobre".
 
Daqui a pouco, estarão fechando os túneis. Afinal, quem sabe dessa forma, a máscara caia definitivamente e o Rio revele sua verdadeira face, a da cidade mais segregadora do país.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O mito do milagre econômico na ditadura militar


É bem comum ouvir-se dizer que entre 1968 e 1973 foi a fase do “milagre econômico brasileiro”. Durante o período, o país foi governado pelos ditadores Costa e Silva e Emílio Médici, mas foi o presidente Castelo Branco, que logo no primeiro ano do regime militar (1964), preparou o terreno para o desenvolvimento posterior, ao lançar o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG). 

As medidas do PAEG auxiliadas pelo contexto internacional propiciaram a concretização do tal “milagre econômico”. Com a inflação operando em queda durante todo o período, a economia do país cresceu, em média, 10,2% ao ano (a.a) e o PIB saltou de 9,8% a.a. em 1968 para 14% a.a. em 1973. Mas no sentido de “primeiro fazer crescer o 'bolo' para depois dividi-lo”, como decretou o então ministro da Fazenda Delfim Neto, essa fase estável da economia, confundiu-se com os chamados "anos de chumbo", o período mais repressivo da ditadura, iniciado no fim de 1968, após a edição do AI-5. O que corroborou para um expressivo aumento na concentração de renda. 

O ambiente de repressão política e de sindicatos sufocados favoreceu o arrocho salarial, incluindo aí o salário mínimo, colaborando para o crescimento do bolo sugerido pelo ministro Delfim, pois o setor privado fazia grandes investimentos financiados pela folga financeira devido à redução de custos que representava a folha de pagamento – além de favores concedidos pelos militares a determinados setores econômicos. Esse arrocho foi um vetor importante do modelo econômico implantado. Nos 21 anos do regime, o salário mínimo perdeu, em termos reais, mais de 50% do seu valor. “Todo esse controle administrativo sobre os salários, viabilizado pela repressão política, logrou reduzir a participação do trabalho, especialmente o não-qualificado, na renda nacional, aspecto catalisador do crescimento da desigualdade social”, explicou Ricardo Zórtea Vieira, mestre e doutorando em Economia Política Internacional pela UFRJ. 

Segundo o estudo feito por Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da UnB, em 1965, a fração recebida pelo 1% mais rico, considerando apenas os rendimentos tributáveis brutos (só o passível de pagar tributo), era cerca de 10% do bolo total. Apenas três anos depois, a cifra foi a 16%. 

Por sua vez, o setor público financiava seus investimentos pelo usufruto do endividamento externo, aprofundando por aqui características de uma economia dependente e subordinada. O petróleo, importado a preços baixos no período, impulsionava ainda mais a economia nacional. Mas, em 1974, ocorreu o primeiro choque do petróleo, quando seu preço foi elevado abruptamente. “Nessa época, o Brasil ainda não produzia petróleo, e com o enorme salto no preço dos barris, o governo precisou retirar recursos de programas de desenvolvimento, além de se endividar muito, para poder comprá-los”, contou o professor, mestre em Ciência Sociais e Educação e pós-doutor em História e Política, José Eudes, acrescentando que essa crise também provocou uma aceleração da taxa de inflação no mundo todo e principalmente no Brasil, onde passou de 15,5% em 1973 para 34,5% no ano seguinte.

O milagre então se transformava em pesadelo. Ao fim do regime, a dívida externa passou de cerca de US$ 3 bilhões, em 1964, para quase US$ 100 bilhões, em termos nominais. Para pagar essa dívida, eram usados 90% da receita oriunda das exportações, e o Brasil assim entrou numa fortíssima recessão econômica que duraria até a década de 1990, cujo maior fruto é o desemprego, que se agravou com o passar dos anos e só declinou nos anos 2000. A inflação, que já era alta nos tempos de João Goulart, disparou. Ocorreram grandes movimentos migratórios, de Norte e Nordeste para São Paulo e Rio de Janeiro e do campo para as cidades. Sem empregos, renda e direito à moradia nas cidades, que representavam sonho e esperança, as favelas surgiram como alternativa e como problema urbano e social. Era o fim do sonho dos militares de um “Brasil Grande Potência”.

*Dados: IBGE, Ipeadata

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Reforma trabalhista pra quem?


Como já era esperado, após o impeachment de Dilma Rousseff, discursos sobre cortes em direitos trabalhistas voltaram à tona com força total. Evidentemente, o patrocínio e o lobby feitos por conglomerados burgueses pela destituição da ex-presidente não sairiam de graça.

Sob pretexto de criar um atenuante para a geração de empregos (em um momento de grande supressão), essa ofensiva patronal conta com todo o seu aparato da superestrutura (sobretudo, a mídia) para propiciar um ambiente que viabilize a admissão de seus interesses.

No entanto, essa relação entre custo do empregado e criação de novos postos de trabalho não se sustenta, pois o que gera admissão é a produção econômica, e nenhum contratante emprega somente pelo fato da mão de obra tornar-se mais acessível. Normalmente, esse pequeno ganho marginal, oriundo de folga financeira devido à redução de custos na folha de pagamento, serve apenas ao impulso da renda do capital.

A realidade é que, esse ataque aos direitos trabalhistas, é a via que a burguesia encontrou para preservar seus lucros em um cenário de grave crise econômica. Em referência a países desenvolvidos, uma direita ultraliberal, inclusive, chega a clamar pela extinção da CLT, pressupondo que sem regulamentação, a remuneração seria maior, pois, hipoteticamente, ela é determinada pela produtividade do funcionário e pelo o quão ele é indispensável para o funcionamento do negócio, enquanto até neoliberais mais moderados admitem que sindicatos fortes são o que garantem direitos e melhores salários, e não a livre e espontânea vontade do empresário.

Mas o que o empresariado brasileiro e suas linhas auxiliares precisam entender é que, direitos trabalhistas são fruto de longas batalhas e lutas, cujo início se deu lá atrás durante a escravatura, passando pela Revolução Industrial, vencendo a prática do trabalho infantil, entre outras precárias condições de trabalho. Conquistas asseguradas às custas de muito sangue e muito suor da testa do trabalhador, que não podem ser revogadas apenas para garantir o banquete de suas festas.

domingo, 11 de setembro de 2016

Insólita Inveja


Li em algum lugar que a inveja é o sentimento de ódio ao rival pelo privilégio da posse ou do usufruto da figura de posse ou, ainda, pela perspectiva disso. Talvez isso explique um pouco o que se passa na cabeça temerária de nosso presidente, que diz se inspirar em Mauricio Macri, cuja maior façanha foi fazer surgir mais de 1,4 milhão de novos pobres e a carne desaparecer da mesa de nossos hermanos com uma inflação que supera a marca de 40%, tudo em apenas nove meses na presidência da Argentina.

Michel Temer quer seguir à risca o mesmo ajuste neoliberal que conduziu o povo argentino a esse caos, implementando cortes em direitos trabalhistas e programas sociais, privatizações, degradação dos serviços públicos, diminuição do peso do Estado na economia, abertura comercial e alinhamento da política externa com os Estados Unidos, medidas que nos levariam a seguir trilhando o caminho do desemprego, inflação galopante, fuga de capitais e retorno ao FMI.

Saudades do tempo em que as habilidades de um rival provocavam inveja e não os fracassos.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Percalço Natural


O Atlético-PR vinha de três derrotas consecutivas, já o Botafogo, na rodada passada pela primeira vez havia emplacado duas vitórias seguidas no campeonato. Mas, fazendo jus ao apelido, quem definiu a partida logo no início foi o Furacão. Hernani antecipou a defesa para marcar de cabeça, após cobrança de escanteio provocado pelo excesso de preciosismo na saída de bola – erro peculiar do time carioca durante todo o jogo.

Daí em diante, o Glorioso foi superior na Arena da Baixada. A trinca de volantes voltou a funcionar bem (lembrando os tempos de Campeonato Carioca), Luís Ricardo, atravessando sua melhor fase com a camisa alvinegra, conservava sua regularidade e até Renan Fonseca, que costuma destoar negativamente, esteve acima de sua média. 

Em contrapartida, Camilo que costuma dar as cartas no setor ofensivo, não repetiu as atuações passadas. Sassá, embora seja esforçado, mais uma vez provou que não serve para ser o centroavante titular do Botafogo, ao perder dois gols que qualquer zagueiro com um mínimo de técnica não encontraria nenhuma dificuldade para marcá-los. Pontos fáceis, que podem fazer falta no futuro, foram jogados no lixo.

No entanto, apesar do resultado negativo, já é evidente que Jair Ventura deu outra cara ao time. O caminho da cura pode ser a doença que muitos temiam. Após a saída de Ricardo Gomes, o Botafogo mudou para melhor.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A Arena Salva!


Mais uma vez o Botafogo entrava em campo desacreditado como um mero franco-atirador, mas também pudera, a equipe encontrava-se no Z4 e teria pela frente, nada mais, nada menos do que o líder do campeonato. Todavia, vem surgindo um amuleto que pode mudar esse quadro de figura...

Acompanhando o ritmo das arquibancadas, a partida começou a mil por hora. O Alvinegro segurou bem as investidas do Palmeiras, e logo, passou a dominar o jogo. Aos 19 minutos, Lindoso fez jus ao nome e descolou lindo lançamento para Neilton, que ganhou na velocidade de Zé Roberto para abrir a contagem na Ilha do Governador.

A etapa inicial ainda reservou mais um belo lance. Novamente Neilton deixou Jean e Edu Dracena na saudade e finalizou com extrema categoria para ampliar o marcador. No segundo tempo, o Verdão voltou mantendo o clima do jogo nas alturas, logo no início, Érik acertou o travessão, mais tarde o atacante alviverde não perdoaria rebote de Sidão para diminuir o placar.

Mas a reação palmeirense durou pouco, em seguida a figura rara Camilo - camisa 10 que não dorme em campo - foi agraciado com a cobrança de pênalti que deu números finais ao confronto. No mais, a forte marcação no meio-campo exercida pelos volantes alvinegros comandados por Airton controlou os minutos finais.

Contudo, muito mais do que Neilton, Airton, Camilo ou qualquer outro fator presente no interior das 4 linhas, a diferença foi feita pelo palco do espetáculo e por sua atmosfera emanada. A Arena veio para salvar o Botafogo do rebaixamento!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Escola sem Pensamento


A desonestidade do programa denominado “Escola sem Partido” já fica explícita na adoção da palavra "partido", com intuito de obter a adesão de incautos. Esse projeto, que está em tramitação e alega combater a doutrinação marxista nas escolas, é estupidez de uma direita delirante que desconhece (ou finge desconhecer) a realidade do país em que vive, ao almejar substituir o que imagina que seja uma ideologia em sala de aula por outra ideologia, uma ideologia conservadora.

Esmiuçarei alguns tópicos que elucidam bem esse tema:

1 – Já que a doutrinação é marxista, me diga quantas pessoas você conhece que saibam o que é materialismo histórico e dialético, mais-valia e divisão social do trabalho.

2 – É possível haver doutrinação marxista onde vigora um Ensino Médio voltado à preparação para a competitividade do mercado de trabalho?

3 – Outro pretexto aludido é que são abordadas obras de Marx e não de teóricos liberais. Logo, presume-se que essa turba sequer frequentou uma escola, pois a disciplina “Economia” não faz parte dos planos de estudo do Ensino Fundamental e Médio. Marx é lecionado, porque além de um economista, trata-se de um filósofo e sociólogo. Quer estudar economia? Vá para faculdade!

4 – As maiores doutrinações a quais somos submetidos desde o momento em que nascemos são a cristã (internalizada em nossa sociedade desde a atuação dos jesuítas no Brasil) e a consumista (presente constantemente em propagandas na TV). São essas as ideologias soberanas e jamais a vi sendo contestadas. Em razão disso, é necessário que o papel da escola seja, realmente, o de estimular o pensamento crítico, pois caso contrário o que prevalece é o pensamento dominante.

5 – Pra finalizar, brindo-lhes com essa máxima de Paulo Freire, um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial: “Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Utopia


Nós somos a utopia deles..
 
Nós somos a utopia daqueles que viviam sob a tutela da Lei de Talião.
 
Nós somos a utopia das vítimas da Inquisição.
 
Nós somos a utopia dos servos do sistema feudal.
 
Nós somos a utopia dos explorados e aniquilados pelas colonizações.
 
Nós somos a utopia daqueles que viviam racialmente segregados.
 
A utopia é o único anseio ainda capaz de nos proporcionar alguma fé em um futuro mais justo e igualitário.
 
"Vida sem utopia não entendo que exista."

sábado, 16 de julho de 2016

Daqui pra frente tudo vai ser diferente?


Ontem, o dia começou de maneira triste, após um torcedor do Botafogo ser espancado até a morte por membros de uma torcida organizada do Flamengo. Mas no término do "clássico da rivalidade", ao menos, saímos com a esperança de que ventos favoráveis podem voltar a soprar em direção a General Severiano.

Entretanto, nas arquibancadas da, enfim inaugurada, Arena Botafogo, foi a vez dos torcedores botafoguenses protagonizarem cenas lamentáveis, não esgotando seus ingressos, brigando entre si e atirando objetos ao gramado - o que, por sinal, pode implicar em perdas de mando de campo pelo Glorioso.

Quando a bola rolou, ecoavam no estádio as previsíveis provocações da torcida alvinegra a Willian Arão, mas que, aparentemente, mais uma vez lhe abalaram, pois o volante não repetiu suas boas atuações do campeonato. O que surpreendia, era o time do Botafogo, que demonstrava superioridade dentro das 4 linhas...

Aos 12 minutos, após cobrança de escanteio, Rodrigo Lindoso completou de cabeça, na trave. Mas o Alvinegro não aproveitou o bom momento. Aos 23, Everton aproveitou a primeira falha da defesa adversária para abrir o placar para o Flamengo. A partida voltou a ficar truncada e na base do abafa, surge a primeira singularidade do jogo...

Diante dos olhos de Tite, técnico da seleção, que marcava presença na Arena, o melhor em campo Aírton deu lençol em Arão, a bola foi levantada na área e, em chute potente e certeiro, Diogo Barbosa marcou um lindo gol, o primeiro do lateral-esquerdo com a camisa alvinegra: 1 a 1.

Na etapa final, o Flamengo voltou melhor e não demorou para retomar a vantagem. Aos 12, outra pane geral e falha inadmissível de Bruno Silva. Jorge roubou-lhe a bola, deu para Evertou e apareceu na frente para receber e vencer Sidão. Pouco depois, após nova falha da defesa (desta vez de Emerson Santos) e nova assistência de Everton, Guerrero ampliou: 3 a 1. E o jogo parecia decidido...

Mas o treinador rubro-negro Zé Ricardo é daqueles aficionados por armar uma retranca, recuou exacerbadamente o time e acabou punido no final...

Pois Ricardo Gomes, ao contrário do técnico oponente colocou o time para frente, que por sua vez não se entregou. E aos 34, em mais uma bela jogada de Aírton, Luís Ricardo cruzou, e Neilton diminuiu. Mais três minutos, veio o empate e com ele mais um prenúncio de "mudança dos ventos" no coração alvinegro. Camilo avançou pela esquerda e tocou para Salgueiro girar em cima de Jorge e desencantar no momento certo, marcando um golaço para empatar o jogo. O uruguaio, enfim, demonstra estar se encontrando com a camisa do Botafogo, outro ponto positivo do jogo.

Mas o principal motivo de comemoração aos alvinegros é a quebra de uma martirizante escrita contra seu maior rival. Pois, desde 2007, o time vem sofrendo com viradas e empates, quase sempre definidos com gols rubro-negros nos minutos finais das partidas.

No entanto, ontem a sorte resolveu compensar um pouco o time do qual ela por muito tempo se manteve ausente.

    segunda-feira, 11 de julho de 2016

    A Alma de Cristiano Ronaldo

    Confesso que já fui preconceituoso com relação a Cristiano Ronaldo... 

    Considerava seu ethos egocêntrico e exibicionista, além de erroneamente me incomodar com seu excesso de vaidade, pelo fato dele andar feito uma gazela, sempre com gelzinho no cabelo, se admirando pelos telões dos estádios da vida. E realmente era puro preconceito...

    Como certa vez afirmou o secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias: "Cristiano Ronaldo tem alma!". É um dos atletas mais altruístas, é porta-voz de várias causas humanitárias, incluindo a fome infantil e volta e meia aparece na mídia por suas ações em prol de crianças em situação de risco, ou com problemas de saúde. 

    Mas profissionalmente, sua alma nunca emergiu como fora nesta Eurocopa. A maior prova aconteceu durante a disputa de pênaltis entre os portugueses e a Polônia pelas quartas de final, na qual o astro do Real Madrid assumiu a responsabilidade de motivar seus companheiros, e também na grande decisão contra a França, quando aos 24 minutos de jogo, sofreu uma lesão após entrada de Payet, deixou o gramado chorando e transformou-se em uma espécie de auxiliar técnico no decorrer da prorrogação, gritando e incentivando a equipe do lado de fora, para após o apito final chorar de novo, porém, dessa vez para celebrar o título inédito.

    E em meio a comemoração, não esqueceu de novamente demonstrar não ser craque apenas dentro do campo, através de seu lado humanitário, ao dedicar este título a todos os imigrantes, em um momento no qual uma onda de rejeição e intolerância à imigração assola a Europa.

    Todos esses fatos que citei já seriam suficientes para considerá-lo superior a Messi. Mas, por incrível que pareça, ainda vou na contramão da maioria, e embora reconheça que o argentino seja mais eficiente, para mim, CR7 é mais diferente e espetacular. Enfim, sei que essa minha opinião é minoritária, mas isso pouco importa, pois minha avaliação transcende o fator futebolístico. 

    Muito mais pelo que faz extra-campo do que dentro das 4 linhas, Cristiano Ronaldo é hoje "o cara" do futebol mundial!

    quinta-feira, 9 de junho de 2016

    Roda-Viva


    No Brasil, as classes dominantes sempre foram responsáveis por ditar as regras do jogo político. Foi assim, em 1954 quando Getúlio Vargas deu cabo à própria vida por causa de pressões de grupos contrários ao trabalhismo.

    Foi assim, em 1964, quando esses conglomerados financiaram o golpe militar para impedir as reformas de base de Goulart. 

    Foi assim, em 1983, quando apoiaram as "Diretas Já", devido a excessiva intervenção estatal na economia, durante a ditadura militar.

    Foi assim, em 1989, quando contaram com a colaboração/manipulação da mídia para eleger o "caçador de marajás" Collor e seu projeto neoliberal, e também para o impichar, em 1992, quando o mesmo lesou os interesses das elites com o confisco das poupanças.

    Foi assim, em 2002, quando Lula precisou convidar José Alencar para integrar sua chapa e lançar a famosa "Carta aos Brasileiros" para ganhar a confiança do empresariado e conseguir vencer as eleições.

    E não foi diferente na queda do governo Dilma, que apesar dos inúmeros erros cometidos, seu desgaste político deve-se, em grande parte, por confrontar: a burguesia rentista (interna e externa), ao baixar exacerbadamente a taxa básica de juros (Selic); o setor elétrico, ao interferir na tarifa da conta de luz e; sobretudo, a maior "patrocinadora" do impeachment, FIESP e todo o setor industrial, ao reverter parte das desonerações.

    Ou seja, a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas nosso paradeiro, a roda-viva continua a nortear.

    terça-feira, 10 de maio de 2016

    Seja marginal, seja herói...


    Quando me concedem a alcunha de marginal, não me sinto ofendido, e sim elogiado. Pois segundo o direito ateniense, Sócrates era criminoso, mas se o mesmo não tivesse violado as regras que proibiam a liberdade de pensamento, esse direito jamais teria podido ser proclamado.

    Se Zumbi dos Palmares não confrontasse o Governo da Capitania de Pernambuco, a escravidão jamais teria sido abolida.

    Se Mandela não fosse denunciado como sendo um terrorista comunista, foragido e preso por 27 anos, o apartheid não seria derrotado.

    Se Luther King não chegasse a ser considerado um radical perseguido pelo FBI, e se Malcolm X não fosse preso ao optar por uma vida "criminosa e violenta", a população negra não teria conquistado direitos civis.

    Se Pagu não fosse uma militante comunista de caráter transgressor, perseguida, torturada e presa diversas vezes, muitas conquistas da luta feminina não seriam viabilizadas.

    Todos os crimes destes marginais foram essenciais à história da humanidade. O homem deixa de ser violento para se tornar marginal quando passa a ter consciência do que ataca.

    quarta-feira, 27 de abril de 2016

    Senso Comum: Covardia, Hipocrisia e Conservadorismo


    Reproduzir o senso comum nada mais é do que recorrer à guarida da zona de conforto, conservando uma posição submissa ao fazer coro com as massas preponderantes. Na linguagem coloquial seria o tal do “jogar pra galera”.

    O falso moralismo, no qual se esconde à sombra dos "bons costumes", é a base cultural desta conveniência, consistindo em apegar-se a normas e padrões hierarquizados que lhe convém, para condenar atos alheios e justificar os próprios.

    Essa resignação torna-se uma das maneiras mais rudimentares de se acovardar, pois sempre será mais fácil e cômodo permanecer alienado e preso a pressupostos paradigmáticos do que instruir-se, refletir, raciocinar, questionar e contestar para enfim se conscientizar e, habilitar-se a argumentar, opinar e reivindicar.

    Evidenciando que a covardia anda de mãos dadas com o conservadorismo, trazendo à tona a inépcia, além de uma moralidade hipócrita, da qual serve como recurso legitimador para que a maioria esmagadora possa refugiar-se atrás dos grupos opressores, recorrendo ao enaltecimento e exaltação como método de afirmação e sobrevivência.

    Todavia, essa postura subordinada apenas mantém a condição daqueles intitulados meramente como “mais um na multidão”, ao aderi-la, você sempre será “só mais um... comum!”.

    quarta-feira, 20 de abril de 2016

    Sessão de Horrores


    A maior concentração de hipocrisia, implante, botox e disfunção erétil por metro quadrado do planeta. Assim resume-se a Câmara Federal durante a votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma turba desqualificada de "homens de família" comandados por um biltre do quilate de um Eduardo Cunha, que distribuía sorrisos pelos quais não debochava de Dilma nem dos parlamentares que o atacavam, mas de todo o povo brasileiro.

    O mesmo povo que também já foi vítima da faceta autoritária do estado corporativo petista com a remoção violenta de favelas para as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, a utilização do exército para contenção de protestos, a ocupação de favelas pelos militares, a expansão indefinida do estado policial brasileiro (com um aumento da população prisional de 7% ao ano, prendendo primordialmente pessoas negras e pobres), além da arbitrária construção da hidrelétrica de Belo Monte.

    Mas como era de se esperar, a cena mais execrável desta tenebrosa sessão plenária foi protagonizada pelo Deputado Jair Bolsonaro, que durante o anúncio de seu voto, homenageou o Coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi de São Paulo - entre 1970 e 1974 - um dos principais centros de repressão do Exército durante a ditadura militar, na qual Ustra matou mais de 60 pessoas, além de ter participação em cerca de 500 torturas e desaparecimentos.

    O coronel cujo o deputado intitulou como "Pavor de Dilma Rousseff", por ele ter sido responsável pela tortura da atual presidente, à época com 23 anos, chegando a deslocar sua mandíbula e quebrar seus dentes, também torturava crianças e mulheres (inclusive gestantes) e tinha entre seus métodos cruéis o costume de introduzir ratos e insetos nas genitais femininas.

    À Bolsonaro e Cunha só me resta dedicar este trecho do poema "Algumas perguntas a um 'homem bom'" de Bertolt Brecht:
    "Escuta, pois: nós sabemos
    Que és nosso inimigo. Por isso vamos
    Encostar-te ao paredão. Mas em consideração
    Dos teus méritos e das tuas boas qualidades
    Escolhemos um bom paredão e vamos fuzilar-te com
    Boas balas atiradas por bons fuzis e enterrar-te com
    Uma boa pá debaixo da terra boa".

    terça-feira, 12 de abril de 2016

    A Fragmentação da Esquerda


    Em tempos nos quais muito especula-se sobre Foro de São Paulo, um fato antagônico a este prisma tem me chamado bastante a atenção: a segregação das vertentes de esquerda no Brasil. 

    Hoje, termos como "stalinista", "trotskista", "maoista", "anarquista", "petista", "socialista cristão", "new left", entre outros, são frequentemente usados de maneira pejorativa em qualquer debate ou diálogo envolvendo frentes progressistas. As forças anticapitalistas e vanguardistas em vez de articularem uma construção socialista para frear a ofensiva violenta do capital, agregarem meios para coibir avanços dos regimes neoliberais, e unidas combaterem o fascismo que cresce sorrateiramente, optam por se atacarem mutuamente, fomentando a esquerda que a direita gosta. 

    Em contraponto, observamos liberais e conservadores estreitarem alianças, acompanhados da dissimulada onda fascista, que pega carona no antipetismo para novamente colocar suas garras de fora. Essa coesão e organização de grupos retrógrados e opressivos, tende a ser bem nociva, sobretudo em um momento no qual é iminente a retomada do poder por parte de potências reacionárias que põem em xeque movimentos sociais, direitos de minorias e proletariado, além de inibirem qualquer forma de inclusão. 

    Atualmente o ódio político impera em um Brasil dicotômico, exacerbando a premência de uma conexão e associação que façam as classes dominantes tremerem frente aos ideais e anseios das massas ao enfrentarem tropas e facções repressivas sob comando dos conglomerados burgueses. É conveniente recordá-la para que possamos acatar a conclamação de nosso pai da revolução, Karl Marx: "Trabalhadores do mundo, uni-vos!".

    terça-feira, 29 de março de 2016

    Por que "Temer" o impeachment?


    Sempre fui crítico ferrenho do governo vigente, mas a destituição de Dilma neste momento, elevaria Cunha e Temer aos postos de vice e Presidente da República, respectivamente. Seria colocar, de forma indireta, no comando do poder executivo, o líder do partido detentor da maior bancada das duas casas do Congresso Nacional que preside paralelamente, e considerando o iminente pacto entre PMDB e PSDB (partido que possui o terceiro maior número de parlamentares federais), os entraves que eles próprios estabeleceram ao governo irão cessar, o país deixará o estado de inércia no qual se encontra, e consequentemente esse fator será usado como trunfo nas próximas campanhas presidenciais.

    O maior partido e câncer político do Brasil, tão corrupto quanto o PT, fortalecido e com a máquina na mão, minimizará totalmente as chances de elegermos um Chefe de Estado mais confiável em 2018. É preferível penar por mais dois anos do que por tempo indeterminado, pois herdaremos um Planalto capitaneado por Temer, Calheiros, Cunha, Sarney, Newtão Cardoso, Picciani, Mauro Lopes, Osmar Terra e Jader Barbalho. Esta 'República do PMDB' consolidada, dará prosseguimento aos esquemas de corrupção dos quais já encabeça, e ao dispor da coadjuvação do PSDB, a blindagem mútua de dois dos maiores partidos do país irá atravancar o combate à corrupção.

    A pergunta agora é: se já está sendo muito difícil retirar do poder o enfraquecido e combalido PT, que há mais de um ano vem sofrendo pressão das ruas, da oposição e do judiciário, além de encontrar-se abandonado pela sua própria base aliada, como vamos fazer para conseguir derrubar o PMDB e suas coligações que dominarão o país inteiro?

    Não gosto de ficar em cima do muro, pois como diria Gramsci: “Viver significa tomar partido”. Em virtude disso me posiciono contrário ao impeachment. Faz-se necessário lembrar da Lei de Murphy (Máxima número 3) de Alan Bloch: "Nada é tão ruim que não possa piorar mais ainda".

    segunda-feira, 7 de março de 2016

    Tudo Normal!


    A primeira fase do Campeonato Carioca se encerrou, com todos os times considerados grandes se classificando com extrema facilidade, exceto o Fluminense que só confirmou sua classificação na última rodada.

    Em consequência de sua instabilidade neste início de temporada, o Tricolor Carioca efetuou uma mudança no comando do time, demitindo o técnico Eduardo Baptista e contratando para o seu lugar, Levir Culpi, um dos melhores do país e, por conta disso, tem tudo para se acertar a partir de agora, pois detém, em seu elenco, um material humano de qualidade excepcional.

    O Botafogo que começou 2016 cercado de desconfiança, surpreendeu a todos e terminou a primeira fase como o melhor time do campeonato.

    Primeiro colocado de seu grupo, o Vasco aproveitou a manutenção de quase todo o elenco de 2015, utilizando seu entrosamento para fazer uma boa campanha neste início de Estadual.

    Já o Flamengo, que assim como o Fluminense investiu pesado para esta temporada, conseguiu atingir a classificação com certa tranquilidade, embora tenha sofrido alguns tropeços.

    Agora na segunda fase, espera-se novamente dos 'grandes', a manutenção de suas supremacias sobre os 'pequenos' (Boavista, Bangu, Volta Redonda e Madureira), e que tenhamos o tira-teima entre eles, para descobrir se as equipes que menos investiram, novamente levarão vantagem na fase final.

    domingo, 6 de março de 2016

    Lula, a Casa Grande e a Senzala


    Se a corrupção é característica tradicional do Brasil e sempre esteve presente em todos os nossos governos federais, prender somente o único presidente oriundo das classes mais desfavorecidas é sinônimo de justiça para o povo brasileiro?

    É sim. Justamente por se tratar de um legítimo representante da classe trabalhadora, o povo depositou nele suas esperanças e dele esperava-se muito mais do que de qualquer outro presidente que já esteve à frente de nosso país, o que lhe caracteriza como traidor.

    Aquele Lula das décadas de 70, 80, das greves, que andava ao lado dos trabalhadores e da militância não existe mais. Lula não é mais de esquerda desde que iniciou suas alianças com reacionários como José Alencar, Sarney, Garotinho, Maluf, Collor, Pezão, Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Renan Calheiros, Jader Barbalho, entre outros, e quando lançou aquela 'Carta aos Brasileiros' com a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e Continuidade. Sobretudo continuidade.

    Hoje Lula é só um capitalista que ganha dinheiro vendendo sua influência, e também a sua alma, para o grande capital, estabelecendo relações promíscuas com a elite, grandes corporações e empreiteiras e, seus respectivos donos. O Lula de hoje é um fiel colaborador da corrupção!

    E paga um alto preço por puxar o saco da Casa Grande e esquecer que eles nunca aceitarão quem vem da senzala!

    terça-feira, 1 de março de 2016

    PT X Socialismo


    Aos amiguinhos que persistem em propalar que o governo do PT é socialista, serei didático pela última vez.

    Socialismo: consiste em uma variação do marxismo que promove um estágio político e econômico fundamentado no Estado de bem-estar social que intercede em prol do proletariado, instaurando a dissolução de classes e a coletivização dos meios de produção ao romper com a mentalidade capitalista, para posteriormente tornar dispensável a presença desse Estado à medida que ocorre a transição para o comunismo, aonde ele sequer sobrevém, pois o mesmo é anárquico, com os meios de produção sendo transferidos para o domínio do povo.

    Governo petista: já nomeou um banqueiro como Ministro da Fazenda, uma ruralista como Ministra da Agricultura e um imobiliário como Ministro das Cidades, além de coagir o proletariado a pagar a conta pela crise por meio de um ajuste fiscal que corta direitos trabalhistas e verba da previdência social, saúde, educação e reforma agrária, enquanto banqueiros batem recordes de lucro, sem que o governo ao menos cogite taxar as grandes fortunas.

    Isto posto, alguma semelhança foi constatada?

    terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

    Dica Cultural: Álbum de Família


    A peça “Álbum de Família”, em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, é uma montagem da obra de Nelson Rodrigues e conta em seu elenco com meu amigo, Luiz Gustavo Padrão.

    Com olhar contemporâneo, o diretor Marcelo Caldas utiliza uma encenação realista, adotando uma roupagem mais atual, tornando a peça mais dinâmica e de fácil compreensão.

    Os personagens refletem de maneira radical e explícita a realidade da hipocrisia das chamadas “famílias tradicionais brasileiras”, em um demagogo jogo de aparências. Luiz Gustavo interpreta o emblemático primogênito Guilherme, que tem um desejo incestuoso pela irmã, chegando ao ponto de se castrar para evitar consumar o ato sexual.

    A obra, que completa 60 anos em 2016, foi proibida um ano depois de sua publicação em 1946 e liberada após 19 anos, curiosamente, em plena ditadura militar. Retrata uma família que aparenta ser perfeitamente normal, sob a ótica da moral e dos bons costumes, mas cuja intimidade no lar é caracterizada por uma rede de sentimentos complexos, muitas vezes expressados por inveja, paixões incestuosas e perversões diversas.

    "Álbum de Família"
    Endereço: Teatro Poeira - Rua São João Batista, 101, Botafogo – RJ
    Até 30 de março, todas as terças e quartas, às 21h
    Valor: De R$40 a R$ 60 reais (inteira)
    Censura: 16 anos

    segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

    Os últimos serão os primeiros?


    O Campeonato Carioca de 2016 iniciou da mesma forma como terminou o de 2015. Com os considerados “azarões” Botafogo e Vasco ofuscando os badalados Flamengo e Fluminense.

    No sábado (30), o emergente, contestado e conturbado Botafogo passou com facilidade pelo Bangu. Apesar de ainda contar com um elenco extremante fraco para as tradições do Glorioso, o time demonstrou uma grande evolução, comparado à atuação da derrota para o Desportiva-ES, no sábado anterior. As belas atuações de Aírton e do argentino estreante Gervásio Nuñez surgem como uma luz no fim do túnel para a torcida alvinegra em um momento tão turbulento.

    No mesmo dia, o Flamengo que vinha de vitória maiúscula por 2 x 0 contra o Atlético-MG, em pleno Mineirão, pela Primeira Liga, empatou em 1 x 1 com o modesto Boavista na estreia do Campeonato Estadual. Destaque positivo para o golaço de Guerrero que parece ter emplacado de vez com a camisa rubro-negra, e destaque negativo para as vaias da torcida ao zagueiro Wallace, que mais uma vez serviu de bode expiatório após levar a culpa pelo gol de empate sofrido pelo time da Gávea.

    Já no domingo (31), o rebaixado à Série B, Vasco, goleou o Madureira por 4 x 1. A dupla Nenê e Riascos funcionou muito bem, demonstrando o entrosamento que só foi possível devido a manutenção de praticamente todo o time, que apesar de não conseguir evitar a queda à divisão de acesso, foi um dos melhores da reta final do último Campeonato Brasileiro, com uma espetacular campanha de recuperação.

    E a maior surpresa da rodada ficou reservada para a última partida. No estádio Raulino de Oliveira, o Volta Redonda conquistou uma expressiva vitória por 3 x 1 em cima do Fluminense. O Tricolor das Laranjeiras iniciou a temporada com status de favorito após fechar com reforços de peso, como o meia Diego Souza e o zagueiro Henrique, que por sinal foi expulso na estreia contra o Voltaço.

    Será que no Campeonato Carioca, mais uma vez, os últimos serão os primeiros?

    terça-feira, 26 de janeiro de 2016

    Vida de Gado


    Uma sociedade subalterna é constituída através do medo, da covardia e da desinformação, tal como o corpo social que integramos. Inerte e omisso, sem coragem, sem alma, sem coração. Vem ao mundo somente para viver cegamente em harmonia com as leis e ordens sociais, sem prestar-se ao mínimo trabalho de reflexão e contestação, limitando seu senso crítico.

    Aos seus olhos, se torna imperceptível, o inexorável controle exercido pelo Estado, que para maquiá-lo concebe direitos. O Civil que na verdade serve meramente para que os ricos roubem os pobres e o Penal para impedir que os pobres reajam, chamando sua própria violência de lei, mas chamando de crime a violência do indivíduo, como bem ressaltou Max Stirner. 

    Talvez nos falte um Martin Luther King para incitar que "temos o dever moral de desobedecer as leis injustas" e despertar em nossa gente a vontade de quebrar regras e conceitos internalizados e de certa forma acimentados, que ordinariamente tratam-se de leis que segundo Michel De Montaigne: “mantêm-se credíveis não por serem justas, mas apenas por serem leis. É o fundamento místico da autoridade delas; não tem outro, e é bastante; Frequentemente são feitas por imbecis”. Uma vez que a escravidão, o holocausto e o apartheid já estiveram dentro da lei, portanto não se deve usar a lei como parâmetro para a moralidade. 

    Certa vez, Cazuza pediu piedade e um pouco de grandeza e coragem pra essa gente careta e covarde. Já Zé Ramalho, alertou em seus versos sobre a vida de gado de um povo marcado e feliz a vocês que fazem parte dessa massa de manobra, manipulada de maneira tão banal, dando origem a um grande teatro de marionetes caricatas e compactuantes, que constroem o alicerce de toda essa engrenagem do sistema. Pois como diria Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”. 

    Não se esqueçam que violentos são os que impõe a desigualdade, não os que lutam contra ela.

    sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

    Novos e Antigos Sentimentos