terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Vida de Gado


Uma sociedade subalterna é constituída através do medo, da covardia e da desinformação, tal como o corpo social que integramos. Inerte e omisso, sem coragem, sem alma, sem coração. Vem ao mundo somente para viver cegamente em harmonia com as leis e ordens sociais, sem prestar-se ao mínimo trabalho de reflexão e contestação, limitando seu senso crítico.

Aos seus olhos, se torna imperceptível, o inexorável controle exercido pelo Estado, que para maquiá-lo concebe direitos. O Civil que na verdade serve meramente para que os ricos roubem os pobres e o Penal para impedir que os pobres reajam, chamando sua própria violência de lei, mas chamando de crime a violência do indivíduo, como bem ressaltou Max Stirner. 

Talvez nos falte um Martin Luther King para incitar que "temos o dever moral de desobedecer as leis injustas" e despertar em nossa gente a vontade de quebrar regras e conceitos internalizados e de certa forma acimentados, que ordinariamente tratam-se de leis que segundo Michel De Montaigne: “mantêm-se credíveis não por serem justas, mas apenas por serem leis. É o fundamento místico da autoridade delas; não tem outro, e é bastante; Frequentemente são feitas por imbecis”. Uma vez que a escravidão, o holocausto e o apartheid já estiveram dentro da lei, portanto não se deve usar a lei como parâmetro para a moralidade. 

Certa vez, Cazuza pediu piedade e um pouco de grandeza e coragem pra essa gente careta e covarde. Já Zé Ramalho, alertou em seus versos sobre a vida de gado de um povo marcado e feliz a vocês que fazem parte dessa massa de manobra, manipulada de maneira tão banal, dando origem a um grande teatro de marionetes caricatas e compactuantes, que constroem o alicerce de toda essa engrenagem do sistema. Pois como diria Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”. 

Não se esqueçam que violentos são os que impõe a desigualdade, não os que lutam contra ela.

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