sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Crítica | "Convoque Seu Buda" - Criolo


Convoque Seu Buda é o terceiro álbum da carreira de Criolo, e chega para comprovar o amadurecimento de Criolo e superar musicalmente e humoristicamente falando, o antecessor e repercutido Nó na Orelha.

A faixa de abertura e que dá nome ao álbum, serve para apresentar a crítica social que já é característica do músico em uma levada empolgante.

Em Esquiva de Esgrima (uma das melhores faixas do álbum), Criolo volta à essência do rap tanto no beat, quanto na letra que aborda assuntos como violência policial e racismo. E cita músicos precursores do gênero no Brasil como Black Alien, Sabotage e Edi Rock. Mas no refrão não deixa de implementar sua musicalidade peculiar.

Casa de Papelão, o nome já bem sugestivo constata que a linha crítica social é mantida na faixa, tratando do tema dos moradores de rua usuários de crack, explícito nos trechos "Seus amigos são, um cachimbo e o cão" e "Toda pedra acaba, toda brisa passa, toda morte chega e laça... São pra mais de um milhão!".

A faixa Cartão de Visita é em minha opinião a melhor do álbum, o ritmo é contagiante e conta com participação especial da talentosíssima Tulipa Ruiz. Na letra, Criolo aborda questões de desigualdade social e divisão de classes e cita sua polêmica entrevista com Lázaro Ramo em: “A alma flutua, leite a criança quer beber. Lázaro, alguém nos ajude a entender!”.

Na sequência do álbum, o rapper paulista demonstra sua versatilidade e liberdade musical, principal marca do disco. Em Fermento Pra Massa, com o samba, também presente em Nó na Orelha com a faixa Linha de Frente. Em Pé de Breque (nova versão de Não Bolou Por Que), aparece o reggae, agora em uma versão bem mais roots do que a faixa Sambei, também do disco anterior. E o forró, no baião dançante Pegue Pra Ela.

Com Plano de Voo e Duas de Cinco (que já havia sido lançada ano passado em um EP), o álbum retorna ao rap underground. A primeira conta com a participação do rapper Síntese e possui um instrumental psicodélico e uma letra fascinante. A segunda é rap clássico de beat sampleado. O refrão foi extraído da música Califórnia Azul de Rodrigo Campos, artista contemporâneo, da mesma geração de Criolo. A letra fala da sociedade marginalizada, de drogas, desde o âmbito social à questão do tráfico e uso que envolve as elites, tendo espaço para falar até do salário dos professores e ainda cita Foucault, Hobsbawm, Drummond e Maquiável, apresentando seu leque de influências literárias e filosóficas.

A participação de Juçara Marçal em Fio de Prumo (Padê Onã) fecha com chave de ouro o disco. A música contém melodia bastante agradável aos ouvidos, típica da “brasilidade” das canções de Criolo, o que a torna uma das melhores do álbum.

O disco faz jus à espera e tem tudo para consolidar a carreira do músico e afastá-lo de vez do cenário underground.

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