Convoque Seu Buda é
o terceiro álbum da carreira de Criolo, e chega para comprovar o amadurecimento
de Criolo e superar musicalmente e humoristicamente falando, o antecessor e
repercutido Nó na Orelha.
A faixa de abertura e que dá nome ao álbum, serve para
apresentar a crítica social que já é característica do músico em uma levada
empolgante.
Em Esquiva de Esgrima (uma
das melhores faixas do álbum), Criolo volta
à essência do rap tanto no beat, quanto na letra que aborda assuntos como
violência policial e racismo. E cita músicos precursores do gênero no Brasil
como Black Alien, Sabotage e Edi Rock. Mas no refrão não deixa de implementar
sua musicalidade peculiar.
Casa de Papelão, o
nome já bem sugestivo constata que a linha crítica social é mantida na faixa,
tratando do tema dos moradores de rua usuários de crack, explícito nos trechos "Seus amigos são, um cachimbo e o cão" e
"Toda pedra acaba, toda brisa passa, toda morte chega e laça... São pra
mais de um milhão!".
A faixa Cartão de
Visita é em minha opinião a melhor do álbum, o ritmo é contagiante e conta
com participação especial da talentosíssima Tulipa Ruiz. Na letra, Criolo aborda questões de desigualdade social e divisão de classes e cita sua polêmica entrevista com Lázaro Ramo em: “A
alma flutua, leite a criança quer beber. Lázaro, alguém nos ajude a entender!”.
Na sequência do álbum, o rapper paulista demonstra sua versatilidade e
liberdade musical, principal marca do disco. Em Fermento Pra Massa, com o samba, também presente em Nó na Orelha com a faixa Linha de Frente. Em Pé de Breque (nova versão de Não
Bolou Por Que), aparece o reggae,
agora em uma versão bem mais roots do que a faixa Sambei, também do disco anterior. E o forró, no baião dançante Pegue
Pra Ela.
Com Plano de Voo e
Duas de Cinco (que já havia sido
lançada ano passado em um EP), o álbum retorna ao rap underground. A primeira
conta com a participação do rapper Síntese e possui um instrumental psicodélico
e uma letra fascinante. A segunda é rap clássico de
beat sampleado. O refrão foi extraído da música Califórnia Azul de Rodrigo Campos, artista contemporâneo, da mesma
geração de Criolo. A letra fala da sociedade marginalizada, de drogas, desde o
âmbito social à questão do tráfico e uso que envolve as elites, tendo espaço para
falar até do salário dos professores e ainda cita Foucault, Hobsbawm,
Drummond e Maquiável, apresentando seu leque de influências literárias e
filosóficas.
A participação de Juçara Marçal
em Fio de Prumo (Padê Onã) fecha com
chave de ouro o disco. A música contém melodia bastante agradável aos ouvidos,
típica da “brasilidade” das canções de Criolo, o que a torna uma das melhores
do álbum.
O disco faz jus à espera e tem
tudo para consolidar a carreira do músico e afastá-lo de vez do cenário underground.
Nenhum comentário:
Postar um comentário